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domingo, 27 de agosto de 2017

Nossas Noites

Nossas Noites de Kent Haruf

Ano – 2017.
Páginas – 160
Editora – Companhia das Letras
Gênero – Romance

Sinopse: Em Holt, no Colorado, Addie Moore faz uma visita inesperada a seu vizinho, Louis Waters. Viúvos e septuagenários, os dois lidam diariamente com noites solitárias em suas grandes casas vazias. Addie propõe a Louis que ele passe a fazer companhia a ela ao cair da tarde para ter alguém com quem conversar antes de dormir. Embora surpreso com a iniciativa, Louis aceita o convite. Os vizinhos, no entanto, estranham a movimentação da rua, e não demoram a surgir boatos maldosos pela cidade. Aos poucos, os dois percebem que manter essa relação peculiar talvez não seja tão simples quanto parecia. Neste aclamado romance, Kent Haruf retrata com ternura e delicadeza o envelhecimento, as segundas chances e a emoção de redescobrir os pequenos prazeres da vida que pode surpreender e ganhar um novo sentido mesmo quando parece ser tarde demais.
                                                                                                                                            Fonte: Skoob





Nossas noites é um livro com uma premissa surpreendente e inovadora, ao menos para esta leitora. Como revela a sinopse, certo dia, Addie bate a porta de seu vizinho Louis, com a seguinte proposta: que ao cair da noite, ele se dirija até a casa dela para que os dois passem as noites juntos. Sem malícia, sem segundas intenções, apenas porque aos 70 anos e viúva, Addie se sente solitária demais, com dificuldades até mesmo para dormir, caso que imagina ela, seja o mesmo de Louis, viúvo e vivendo sozinho.

Embora surpreso com a proposta e um tanto descrente, Louis curioso, decide aceitar. A partir de então, com a chegada da noite Louis põe seu pijama e sua escova de dentes em um saco e caminha até a casa da vizinha. Os dois passam a desenvolver aos poucos uma amizade que os enche de coragem e força para suportar as línguas maldosas e o preconceito da comunidade.



A construção da amizade e confiança entre o casal é encantador, noite após noite um descobre um pouco mais sobre o outro, compartilhando suas histórias de vida, com bom humor, e sensibilidade, possibilitando ao leitor conhecer os personagens na mesma medida em que a relação deles vai crescendo. É interessante a maneira sincera com que falam de seus erros e suas dores, dos pecados e mortes que tiveram que superar ao longo de 70 anos de vida, agora já maduros, munidos de segurança para revelar quem realmente são, sem se preocupar com aparências.


A narrativa expõe de maneira singela as dificuldades da velhice, a solidão e os comportamentos esperados de cada um, de acordo com a fase da vida em que se encontram. Mais personagens vão sendo inseridos no enredo e desta forma, conhecemos diferentes pontos de vista da velhice. Por meio de Ruth uma simpática senhora, temos a representação daqueles idosos que não tem família, que vivem sós e que até certo ponto perderam um pouco do apetite por viver, se isolando pouco a pouco.

Com os amigos de Louis, vemos a representação dos grupos de idosos que se unem, para socializar, para lembrar os velhos tempos ou apenas para fofocar. Com Louis e Addie, temos a representação daqueles que ainda querem viver, daqueles que querem provar para si mesmos que podem sim viver, experimentar, mesmo que isso signifique correr riscos.

Com o passar das páginas, conhecemos o filho e o neto de Addie que irão representar um papel importante na história, Gene o filho, passa por dificuldades de natureza pessoal e profissional e precisa que sua mãe cuide do neto Jamie por algum tempo. A partir deste ponto, vemos como os conflitos familiares exercem pressão sobre nós, sejamos crianças ou idosos.

Os protagonistas conseguem desenvolver uma relação amorosa e confiante com o garotinho Jamie, no entanto encontram preconceito e desconfiança em Gene, que se coloca no papel de controlar e limitar as ações de sua mãe, nos dando amargas demonstrações do quão ingratos e incompreensivos alguns filhos podem agir com seus pais.

Obviamente não revelarei aqui o final do livro e consequentemente o desfecho da história de Louis e Addie, me limito a dizer que o livro é sútil, sua história é tocante principalmente se nos imaginarmos no papel dos simpáticos velhinhos, e claro a narrativa já merece reconhecimento por tratar de um tema pouco comum, ao menos em minhas leituras. A linguagem é de fácil compreensão, os capítulos e o número de páginas são curtos, ou seja, tudo contribui para aquela leitura de uma sentada. E no final, você ainda fica com aquele gostinho de quero mais, quero ler mais, quero viver mais, quero conquistar uma boa velhice.